terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Fronteiras


O homem e o menino estão fugindo de uma guerra onde talvez nem tenham uma posição definida. Talvez nem sejam contra o regime de Bashar al-Assad, que impõe, com violência e morte, limites à liberdade de expressão. Dá para ver que sofrem. Mas esse texto não é sobre sofrimento. E nem sobre guerras. É sobre atravessar fronteiras. E o que é, enfim, uma fronteira? É algo físico, geográfico, visível, mas é muito mais.

O homem e o menino estão atravessando a fronteira entre a Síria e a Turquia. Há nos seus olhos uma certa ansiedade. Olham para algo que talvez ainda não conheçam. Uma terra vizinha, porém estranha. Algo novo e incerto, porque o antigo já é impensável. O que farão lá? Haverá trabalho, comida, condições de construir um lar? Isso pouco importa agora. Fogem, porque foi a alternativa que restou. E talvez só tenhamos realmente a coragem de atravessar quando algo nos empurra. Fronteiras são as referências da mudança.

Na Turquia, o menino será um homem. O homem, logo será um velho. Talvez até lá a Síria se pacifique. Talvez um regime desmorone e outro se levante. Jamais voltarão à velha Síria, esta será nova então. Se há expectativas para além da fronteira, também há naquilo que fica para trás dela. Há quem sonhe com um mundo sem fronteiras. No caso do homem e do menino, ainda bem que elas existem e que podem ser alcançadas.

2 comentários:

  1. Não sei se tu sabes, mas trabalho em um Programa de Pós-graduação em História cuja linha de pesquisa é Fronteira. Dou um curso nesse Programa pensando Fronteira e História. Gostei pra caramba do teu texto.

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