quinta-feira, 13 de julho de 2017

Queremos governantes irascíveis

Para ser um governante, Platão defendia em sua obra A República que o sujeito deveria ter a formação anterior de guardião. Estes eram selecionados por apresentarem de forma destacada a parte irascível de sua alma (Platão dividia a alma em 3 partes: apetitiva, irascível e racional). Irascível é uma pessoa que se irrita com facilidade. Significa dizer que, para ser um bom governante, antes de mais nada era preciso ser um cara pavio curto, corajoso, em síntese um bom guerreiro. Tinha que saber brigar e gostar disso. Claro que depois se acrescentariam qualidades como a temperança, a racionalidade e a experiência. Mas não podia ser muito deboísta, como se diz hoje em dia.

Eu e o mundo

É interessante ver a imagem que o senso comum faz do filósofo hoje em dia, ou pelo menos de quem se dedica a pensar filosoficamente. Normalmente essas pessoas são vistas como alheias ao mundo, sem uma preocupação prática com a vida, o que difere totalmente da proposta original grega de filosofia. A ética aristotélica, por exemplo, tinha por base o desenvolvimento de virtudes individuais que credenciassem o cidadão a conviver de forma harmônica com os demais, na polis, buscando sempre o justo meio, uma espécie de meio-termo entre a falta e o excesso de paixão. Em outra palavra, a temperança, que é elemento fundamental para o bom convívio social. Mais prático que isso, impossível. No conceito de justiça, a maior de todas as virtudes para Aristóteles, o justo projeta-se mais para o outro do que para si mesmo. Lembra muito a nossa definição atual de empatia, ironicamente, algo que parece nos fazer muita falta.