sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Falou e disse

A nossa língua portuguesa tem expressões pitorescas que renderiam uma boa conversa de bar. Cada uma com a sua utilidade. Tem aquelas que servem para dizer a mesma coisa, só que de um jeito diferente. Tem também as expressões muito úteis para aqueles que não querem dizer nada, ou seja, para quem só quer “chover no molhado”. “A priori” e “no âmago da questão” eram as preferidas de uma certa professora minha na faculdade. Ora, mas quem está interessado no que não está “no âmago da questão”? Melhor seria ir mesmo direto ao ponto para terminar logo aquela aula chata.

Mas a expressão que eu mais gosto, disparado, é essa: “e aí que eu me refiro”. Essa é imbatível. Embora gramaticalmente estranha (falta uma preposição ali, creio que o mais correto seria dizer "é a isso que eu me refiro", mas dessa forma perderia todo o seu encanto e a sua, com o perdão da redundância, expressão), tem o poder de encerrar qualquer conversa, qualquer discurso, porque chega justamente no ponto G do assunto em questão. Chegamos lá, não tem mais o que dizer. Tudo o que vem depois é supérfluo, o mais completo papo furado. Ouvi essa hoje no almoço. Depois disso, fez-se um silêncio retumbante no recinto.

4 comentários:

  1. Muito bom.
    Os gaúchos, em especial, têm uma expressão que eu considero magnífica.
    Dois conhecidos se encontram. Um pergunta, como de praxe: e daí?
    O outro então discorre um rosário de desgraças: minha mãe morreu, meu pai está paralítico, minha irmã continua bebendo, meu filho perdeu no jogo tudo que eu tinha, perdi meu emprego, minha mulher me largou.
    Depois uma pausa breve e infinita, o outro pergunta: "E no mais, tudo bem?"
    Não é fantástico? Essa expressão tem o poder de encerrar o mundo anterior, caótico, em desagregação. Acabar com a tempestade. E deixar em seu lugar a bonança e a calma.
    O outro, então, nada mais pode dizer senão a resposta esperada: "É... no mais, tudo bem."

    ResponderExcluir
  2. Hahahahaha... muito boa. Normalmente as pessoas perguntam como as outras estão por pura educação, ou por costume. Na verdade não estão esperando uma resposta mais específica. E ficar ouvindo a tragédia alheia, ninguém merece.

    ResponderExcluir
  3. Agradeço a explicação.
    Fábio Montenegro - Recife / Pernambuco

    ResponderExcluir